FÁBIO ALVES (ACTOR)

FÁBIO ALVES (ACTOR)

by Ana Carrilho (ana.carrilho@portugalfantastico.com)

Fábio Alves, nascido em Gaia, no Porto em 1988, foi o Mago do musical “Aladino e a gruta mágica” no gelo.

PF- Tornaste-te uma figura mediática depois de participar nesta peça. Como achas que o público te recebe? Identificas-te com este mediatismo?

FA – Vou começar por responder alterando a própria questão uma vez que não considero ter-me tornado uma figura mediática depois do “Aladino”, nem de longe nem de perto. Continuo a ser uma pessoa completamente incógnita. E ainda bem. Porque posso continuar a passar despercebido na rua, no centro comercial, na praia, como sempre desejei, até porque não me identifico com o mediatismo. Reconhecimento pelo meu trabalho, esse sim, será sempre bem-vindo e sim, últimamente esse reconhecimento tem aparecido, fruto de muito trabalho e felizmente esse reconhecimento reflete-se em mais trabalho. Agora, a fama não me soa a nada de bom e não me revejo num estilo de vida em que não possa fazer as minhas compras e andar na rua sem ser abordado. Por isso dispenso bem essa parte. Interessa-me ser conhecido no meu meio de trabalho, esse meu pequeno mundo, e isso já vai acontecendo, o que me deixa satisfeito.

 

PF – Como foi trabalhar com actores como Luciana Abreu, joão Didelet e o músico Paulo Vintém? Foram colegas unidos?

FA – O que nos levou a conhecer e criar laços foi um projeto profissional e esse foi sempre o foco. Obviamente que em processos tão intensos como os que o Teatro exige acabam por se evidênciar as relações pessoais e criar laços é inevitável, assim como animosidades. Mas quanto às pessoas que te referes na questão devo dizer que foi um enorme prazer conhece-las e poder partilhar o palco com elas (o Didelet já conhecia de um projeto de cinema “Luzes, câmara… tortura!” de 2011. Agora que falo nisso esse filme ganhou acerca de um mês mais um prémio). Tanto a Luciana, o Didelet e o Vintém são pessoas maravilhosas e com um grande coração, uma grande generosidade, que é a virtude que considero fundamental para um ator. Tudo isso ajuda no processo criativo e na contracena. Contudo o Didelet é especial. Tem um dom para a comédia que já lhe vem no sangue e apetece-nos ficar eternamente em cena com ele. É desafiante, empolgante, porque numa situação de improviso é um ator que dá muito jogo sem nunca perder o fio à meada e sem fugir do contexto da peça. É uma segurança em cena. Com ele aprendi muito. Dos três era aquele a quem estava mais ligado, sem dúvida.

 

PF – Sempre trabalhaste como actor ou tiveste outros “papéis” na vida. Que idade tinhas quando fizeste o teu primeiro trabalho.

FA – É triste ter de dizer com tanta convicção que atualmente é dificil para um ator conseguir viver apenas da representação. No entanto considero-me um sortudo e um felizardo porque nos ultimos anos tenho conseguido pagar as minhas contas apenas a fazer o que mais amo. Óbviamente não é só sorte. É justo dizer que tudo o que até hoje construi no meu pequeno percurso foi por mérito, sem atalhos. Custou muito mas hoje sabe muito bem cada novo projeto que consigo ganhar. É à custa do meu suor e de muito investimento na formação, e nesse ponto tenho de agradecer muito à minha familia que me apoiou sempre e também financeiramente. Mas voltando à pergunta o meu primeiro trabalho profissional foi como ator aos 17 anos e foi no T.E.P. (Teatro Experimental do Porto). No entanto pelo meio já trabalhei como monitor de uma empresa de tratamento e valorização de resíduos sólidos urbanos, aquilo que rotineiramente chamamos de aterro sanitário. Fazia visitas guiadas de escolas à triagem do cartão, vidro e plástico e ao próprio aterro. Já trabalhei também num supermercado onde fazia reposição, caixa e padaria. Já fiz animações de rua e em festas particulares e já trabalhei como palhaço de rua. Não tenho problema nenhum em contar isto, até porque considero que por cada sitio por onde passo trago uma aprendizagem e também não tenho medo de dizer que se a vida a isso me obrigar, voltarei a fazer qualquer um destes trabalhos. Não tenho medo de trabalhar e de me fazer à vida. Aliás acho que trabalhar, seja lá a fazer o que for, é uma questão de dignidade. Por isso me aborrecem as pessoas que não querem trabalhar porque lhes é proposto ganhar um salário menor que o rendimento minimo ou subsidio de desemprego que estão a receber.

 

PF – Tens tido papéis versáteis e gostas de quebrar aquela rotina de fazer sempre o papel de vilão, ou personagens trágicas ou cómicas? De todos os teus papéis até aqui, qual foi o the life changing?

FA – Tenho tido a oportunidade de fazer os mais variados tipos de personagens. Felizmente ainda não fui rotulado… Mas já fiz desde o mais cómico ao mais vilão passando pelo sombrio e misterioso e pelo humor negro que é uma grande paixão. Acho que não fiz de galã. Não tenho, de todo, o perfil, mas também não sinto a necessidade de passar por esse registo. Acho um tipo de personagem pouco desafiante por ser bastane linear e regular. Por outro lado devo confessar que acho que fui talhado para a comédia, porque tenho uma paixão por humor negro (adoro Joe Orton e Harold Pinter) e porque tenho no sangue as piadas secas e o dom de me rir de mim próprio seja à frente de quem for. Tenho a generosidade de um Palhaço e não tenho medo do rídiculo. Concluindo não me posso queixar porque nunca tive durante muito tempo no mesmo registo de personagem, ou pelo menos o tempo suficiente para me saturar. Quanto ao que tu chamas de “the life changing” foi sem dúvida o Rimbaud de “Eclipse Total” em 2008. Marcou o meu regresso ao T.E.P. e foi a primeira vez que protagonizei uma peça, aos 20 anos. Uma peça que para além de ter quase 3 horas, foi um marco no T.E.P., retratava a homossexualidade entre Rimbaud e Verlaine e estas eram personagens que existiram de facto, o que aumentou terrivelmente a nossa responsabilidade perante os aficionados destes autores e das suas obras, já para não falar no árduo trabalho de pesquisa. A recompensa foi boa. A peça foi um sucesso e ainda voltei a trabalhar no T.E.P. a quem agradeço a oportunidade que me deu e que me abriu outras portas.

 

PF – Teatro consta no teu percurso até aqui, tiveste algumas participações em cinema também?

FA – Sim. 8 Curtas-metragens. Uma delas que já referi anteriormente teve sucesso e arrecadou alguns prémios. Outra, o “Chá da noite” esteve em exibição no Fantasporto em 2009.

 

PF -Consta também que participas em teatro rua, como surgem essas oportunidades?

FA – Comecei a fazer teatro de rua num projeto da escola profissional onde estudava teatro na altura e onde aprendi a andar de andas, algo que tem um efeito visual incrivel na rua. Depois como esse projeto de escola correu bem e eu andava bem de andas fui sendo requisitado… até ter um acidente de andas e as deixar encostadas. Ainda não tive coragem de voltar a pegar nelas. Ainda há dias estive a trabalhar com uma companhia na Feira medieval em Santa Maria da Feira num espetáculo de rua com marionetas. Às vezes sinto que algumas pessoas ainda olham de lado para o teatro de rua e não imaginam que para um ator, apesar de ser das coisas mais desafiantes e gratificantes de fazer, é duríssimo, porque o público é muito inconstante e prende-lo é um desafio dos diabos e depois há sempre a possibilidade da distracção e da personagem fugir ao ator, logo exige um enorme poder de concentração. E claro, a grande ferramenta que é a improvisação, porque na rua e com as pessoas tão próximas nunca sabemos o que pode acontecer, e naquele momento não é o ator que ali está mas a personagem.

 

PF -Quais são os ingredientes fundamentais para se fazer um bom trabalho de equipa. Alguma vez tiveste experiências menos positivas por onde passaste?

FA- Nesta área para se fazer um bom trabalho não creio haver receitas, mas eu julgo que é preciso, como já disse, uma grande generosidade, um grande coração, humildade, perseverança, gostar de dar e receber, ser um bom ouvinte, tolerância, boa onda e claro apelar sempre e muito ao bom senso. Tive duas experiência menos boas até hoje. Numa dessas situações tive de apelar à paciência, que também é uma boa amiga porque esta é uma profissão onde por vezes aparecem egos muito grandes que usam o palco como espelho de exaltação do próprio ego e não consigo tolerar muito bem esse tipo de atitudes. Numa outra vez cheguei mesmo a perder a paciência e tive de dar um corretivo a um colega meu que teimava em dizer que não vinha ensaiar de manhã porque, segundo ele, os atores vão para a noite e a manhã é para dormir. Já para não falar que quando chegava não estava em condições de trabalhar devido ao seu sangue já não circular sozinho. Ora isto tirou-me do sério: quer dizer, muitos artistas se esforçam para que as suas actividades sejam vistas como profissões normais, aparece-me este a passar à prática aquele velho rótulo que faz muita gente olhar (também) para mim de lado: “Atores é só Sexo, drogas e rock’n’roll”. Eu não posso pactuar com isto.

 

PF -Depois do musical Aladino, já foste convidado para outros trabalhos?

FA- Sim. Estive a trabalhar com a Companhia de Teatro E Marionetas de Mandrágora a preparar a estreia da sua nova produção, que estreou agora em Agosto, na Feira Medieval de Santa Maria da Feira, e continuo com a mesma companhia seguindo agora com a reposição de uma outra produção para Guimarães, este mês de Setembro. Em Outubro estarei já de malas e bagagens em Lisboa, onde ficarei uns meses para preparar e estrear no Teatro da Trindade “A Noite” do Saramago. Será a nova produção da Yellow Star Company (produtora que produziu o “Aladino”).

 

PF – Achas que os actores portugueses são conhecidos pelo seu mérito e dedicação hoje em dia?

FA – Creio que atualmente já existe uma percentagem significativa que seja reconhecida pelo seu mérito. Hoje em dia há muitos termos de comparação de qualidade, graças aos canais de cabo e satélite, aos filme e claro, à internet. Por isso a receita da cunha e de ter dois palminhos de cara e não ter talento cada vez mais começa a ir por água abaixo, porque se um ator talentosíssimo não for reconhecido em prol de um homem de corpo atlético que não sabe exprimir-se o público vai estranhar e manifestar-se.

 

PF -Mais uma pergunta Fábio, o que achas da iniciativa do Portugal Fantástico?

FA – Acho que foi uma excelente ideia. É um excelente canal não só de promoção do cinema nacional mas já vai abrindo caminho pelas artes performativas, nomeadamente o teatro, o que é muito bom sinal e e um excelente indicador que no que toca às artes e à cultura o país ainda não está assim tão moribundo como se pensa e como alguns desejam, porque iniciativas como a vossa não deixam que se desliguem as máguinas.

 

PF – E obrigada pela tua colaboração com o Portugal Fantástico.

FA- Eu é que agradeço desde já, também, a visibilidade que me têm dado e a forma ativa como promovem os projetos aos quais vou estando ligado. É uma mais-valia fazer parte do leque de atores que consta da vossa base de dados e sentir o vosso acompanhamento e reconhecimento.

 

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