Fernando Fragata – Realizador e argumentista

Fernando Fragata

by Ana Carrilho (ana.carrilho@portugalfantastico.com)

Fernando Fragata, de nacionalidade portuguesa, realizador e argumentista iniciou-se com a curta metragem Alquimia do Amor, seguiu-se a longa metragem Pesadelo Cor de Rosa e o telefilme da sic Pulsação Zero.

Anos mais tarde, argumentista e realizador em Sorte Nula, e o seu mais recente trabalho no Contraluz. 

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Fernando em que altura é que começou a sonhar com cinema, em realizar e escrever as suas histórias?

Desde muito cedo. Eu diria mesmo demasiado cedo, o que preocupou bastante os meus pais, porque não previam que tal acontecesse e muito menos compreendiam o que era querer ser realizador.

Com a curta-metragem O Amor e Alquimia, ganhou o prémio do público no Festival de  Sevilha em Espanha e o prémio de realização no Festival Internacional da Baía no Brasil. Na altura foi exibida na Sic.  Depois deste trabalho seguiu-se o Pesadelo Cor de Rosa, novamente a trabalhar com os actores Diogo Infante e Catarina Furtado. Quando escreveu as personagens estava a pensar para eles os dois?

Não, isso nunca faço porque apesar de gostar de trabalhar com actores e louvar bastante o seu trabalho, não são os actores que me inspiram durante o processo de escrita. O “desconhecido” é quem me inspira, quero dizer, prefiro imaginar alguém que não conheço, deste modo, o personagem pode ser e fazer o que eu quiser. Além disso, não vale a pena estar a escrever um guião com um actor específico em mente, pois a maior parte das vezes torna-se impossível ou impraticável contratar esse actor, e isso é uma desilusão da qual eu não sofro, uma vez que não estou fixado em ninguém específico.

No Sorte Nula, contou com um elenco bastante mediático. O filme teve apoios ou foi produção independente.

O filme não teve apoios relevantes.

É o primeiro cineasta português a realizar um filme em Hollywood, como se sente com esse status..

Não é razão para sentir nada de especial. O que me interessa é fazer filmes, seja lá onde for. Calhou ter feito o Contraluz nos Estados Unidos porque na altura foi vantajoso em termos financeiros. Se fosse mais vantajoso tê-lo feito na Sibéria era para lá que teria ido.

Em que ano teve oportunidade de ir conhecer o cinema hollywoodiano. Gostava de trabalhar com que actores internacionais.

Não posso dizer que conheço o cinema de Hollywood porque está sempre em constante mutação e estou sempre a aprender. Antes de sonhar com actores sonho em ter dinheiro para poder continuar a filmar, seja com estrelas ou não. Infelizmente, conseguir financiamento tem se tornado cada vez mais difícil.

E sente saudades de Portugal?

Vou a Portugal com frequência e como tal não chego a ter saudades.

Acha que o cinema português é autista, com muitos diálogos e pouca acção?

Acho que o que é mais lamentável no cinema em Portugal são os budgets miseráveis e os poucos filmes que se fazem. Tentem lá encontrar um filme bom Americano feito com um budget abaixo de 1 milhão de euros? Provavelmente encontram 1 bom entre cada 1000 péssimos. Ora, se em Portugal se faz uma média de 10 filmes por ano com budgets semelhantes, quantos acham que vão ser obras primas?

É realizador e argumetista de todos os seus trabalhos?

Exacto. Não me vejo a passar por todo o esforço que é necessário para pôr de pé um filme para contar uma história de outro autor. A não ser que me pagassem muito bem.

Antes de tornar-se realizador trabalhou também como operador de camera em publicidade, video clips e filmes. Recorda-se dessa altura, trabalhou com que actores e realizadores?

Trabalhei especificamente como operador de Steadicam para bastantes projetos com variados realizadores, produtores e atores. Não vale a pena apontar um ou outro em particular porque todos eles me proporcionaram lições importantes de trabalho. Foi uma boa maneira de ir aprendendo como funciona o meio. Depressa me apercebi que o meu lugar não era a trabalhar para os filmes dos outros.

Prefere locais desérticos como as paisagens que filmou em Contraluz, ou cenários urbanos em Pulsação Zero, para filmar. Onde é que encontra mais inspiração.

Dinheiro para poder filmar é o que me dá inspiração. Tudo o resto vem depois.

Há situações de improviso, alterações nos guiões quando estão a filmar, isso acontece com frequência?

Há sempre alterações a fazer por varias razões. Principalmente quando se está a fazer um filme com um orçamento muito baixo. É habitual ter que se alterar cenas porque não temos orçamento para conseguir fazer quilo que está na página. Contudo, também existem ocasiões em que conseguimos enriquecer aquilo que está noutras páginas. É uma luta constante tentar encaixar a história que temos para contar dentro do orçamento para filmar sem que esta saia danificada ou demasiado distorcida em relação ao argumento original.

Tem optado por cinema Blockbuster, não é muito visionário de filmes de autor? Exemplo disso realizou a Pulsação Zero, um filme de acção.

Não percebo nem acho que irei alguma vez perceber a definição de “filme de autor”. Eu sou o autor de todos os meus filmes, não só os escrevo como também realizo e monto, e faço-os porque os quero fazer, ninguém me obriga a fazer qualquer corte ou alteração, portanto, não percebo porque é que há quem ache que os meus filmes não são filmes de autor. É porque as pessoas vão vê-los? Portanto, se as salas estivessem vazias já era um filme de autor?

Vamos mais longe, o James Cameron, por exemplo, escreveu, realizou e produziu o Avatar. Se há alguém no mundo que é autor absoluto e faz os filmes que lhe apetece e como quer, é o James Cameron. Como se isso não bastasse, o Avatar é um filme que veio revolucionar a maneira de se fazer filmes em 3D. Portanto, se há alguém que é verdadeiramente visionário é o Cameron. E então? O Avatar não é um filme de autor? Então é o quê? Expliquem me lá quando é que um filme é um filme de autor? Se um dos filmes do Oliveira tivesse tido muitos espectadores já não era filme de autor? E um filme de acção, não pode ser um filme de autor? Então e o El Mariachi do Robert Rodriguez é o quê? O R.R. produziu, realizou, escreveu, fez câmara, montou e ainda andou a vender o corpo para experiencias clínicas para receber dinheiro para acabar o filme que era o seu sonho e paixão, mas como é de acção não é um filme de autor? Talvez então a definição de “filme de Autor” que tentam impingir seja caracterizada apenas por filmes que sejam uma grande seca. Assim sendo, espero que os meus filmes nunca sejam considerados “filmes de autor”.

Juntou actores portugueses e internacionais em Contraluz, onde a língua inglesa predomina em todos os diálogos. No Pesadelo Cor de Rosa , Diogo Infante fala inglês, já tinha intenções de trabalhar com actores internacionais?

As minha intenção é chegar além fronteiras porque infelizmente o mundo inteiro está-se totalmente a borrifar para filmes falados em Português. Nem os Brasileiros os querem ver. Com o Pesadelo Cor De Rosa (Sweet Nightmare) e o Contraluz (Backlight) o objectivo de chegar além fronteiras foi alcançado com sucesso.

Contraluz entrou para o top dos 10 filmes portugueses com mais sucesso de bilheteira e conta com muitos prémios em festivais. Como acha que conseguiu conquistar o público.

Com muito esforço e um pouco de sorte. Em vez de cruzar os braços depois do filme estar pronto, entrei logo noutra batalha, a da promoção e distribuição. Mas é importante que o filme seja de facto apelativo, caso contrario não fica tempo nenhum nas salas porque as pessoas passam palavra rapidamente. Felizmente tive mais espectadores na segunda semana do que na primeira, o que prova que agradou a bastante gente e a palavra que passaram convenceu os mais cépticos a irem ver o filme.

Tem conseguido orçamento para fazer campanha de marketing dos seus filmes.

No mundo do cinema independente nunca se tem dinheiro para nada, muito menos para fazer campanhas de marketing e publicidade. Mas nunca desisto de tentar fazer o melhor que posso para promover o filme.

Há dois anos sem vermos nenhum trabalho seu. Está a preparar-se para surpreender-nos com um projecto onde reúna um grande elenco e um argumento excepcional?

Neste momento estou a filmar spots publicitários e a trabalhar num documentário bem como a escrever argumentos para outros produtores. Às vezes sabe bem variar. Não faço ideia quando irei filmar uma nova longa metragem.

Obrigada Fernando pela colaboração com o Portugal Fantástico.

 

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